Tuesday, January 04, 2011

UFC: O Novo Inimigo


Antes de começar, quero avisar já que não quero ser negativista com este post, ou de alguma forma, um "vira-casacas". Sou, e serei sempre fã da WWE, mas talvez por gostar tanto dos momentos que esta me fez, e continua a fazer viver, me frustre tanto a falta de direcção - e por vezes, de inteligência - que esta assume.

Quantas e quantas vezes não ouvimos, ou lemos entrevistas de Vince McMahon a dizer "a UFC não é nossa concorrente. Nós operamos no mundo do entretenimento, eles operam no mundo do desporto". O mesmo se aplica a Dana White, que faz o mesmo comparativo, e o fez novamente na situação que se "queria" desenvolver entre Mark Callaway (Undertaker) e Brock Lesnar.

Ora, perdoem-me e corrijam-me se eu estiver errado, mas vamos fingir que eu não estou no mundo de negócios (e não estou mesmo). Vamos fingir que sou apenas um espectador normal, como tantos outros, a grande maioria de vocês inclusivé: o que é que me interessam rótulos? Não estão os dois no mesmo? As empresas de ambos não estão vocacionadas para nos entreter? Para que possamos chegar ao fim da semana, ou ao fim do mês, sentar-nos no sofá com o petisco favorito na mão, descontrair, e ver o que está a dar na TV?

Porque a verdade é mesmo esta: estão os dois no mundo do entretenimento, e até no mundo do "desporto de entretenimento"; porque ambos contêm desporto, e ambos contêm entretenimento. Ambos vivem num mundo de combates empolgantes, e de nomes sonantes que nos puxam para a televisão.

Isto para nós, não nos faz grande diferença, dado que os PPV's, recebemo-los de borla. Vemo-los, e se não gostarmos, mudamos de canal a meio.

Para os americanos, a conversa é outra. Já diz o Jim Ross no seu blog que os americanos gastam o seu "dinheiro bem merecido" em PPV's, e que há limites para a quantidade de "dinheiro dispensável" (passando a expressão) que o americano comum pode gastar. Feitas as contas, para fãs da WWE e também de UFC, há aqui uma escolha a fazer.

Penso que qualquer pessoa com um mínimo de senso comum e dois "dedos de testa" perceba o grande problema da situação, e como esta se reflecte a longo prazo em cada empresa.

A WWE acaba por conseguir compensar no fim de contas em muitas storylines, mas quantas vezes eu não vejo um Raw de 90 minutos numa hora... Eu, que sou fã devoto e dedicado da mesma, constatar isto, já é grave. Mostra que até os fãs mais dedicados eles se arriscam a perder.

A WWE tem vindo a tornar-se extremamente previsível, e a UFC só beneficia com isto. (Sendo o mais recente caso o desfecho do último Raw) Para além de que, em larga parte, existe a dúvida: para quê ver "lutas falsas", quando posso ver combates "a sério", onde os murros de um realmente acertam na cara do outro? Por acaso, não é a minha opinião, que consigo apreciar um pouco dos dois, mas é a opinião de muitos espectadores americanos, e pelo mundo fora.

E o porquê de eu referir repetidamente "os espectadores americanos?" Porque é com eles que está a maior parte do rendimento. Por mais bem sucedidas que sejam ambas as empresas na sua respectiva expansão internacional, e por mais espectáculos que realizem na Europa e na Ásia, ou por mais merchandise que vendam na Austrália, o que é facto é que o chamado "core business" continua a ser doméstico, ou seja: continua a estar "em casa", nos EUA.

E se, feitas as contas, as assinaturas de PPV's favorecem actualmente mais a UFC do que a WWE, porque há realmente limites para os "luxos" que um cidadão comum pode comprar, não será sinal de alarme para a WWE?

Porque a verdade é que a UFC está a pisar o território da WWE. Está a ganhar-lhe fãs. Porque existe o ponto comum do combate, dos grandes atletas, e do grande espectáculo; a WWE por uma questão de grandeza do mesmo, a UFC por uma questão da expectativa de combates muito aguardados.

Actualmente, o "Universo WWE" está saturado das mesmas lenga-lengas, dos mesmos feuds que não vão dar a lado nenhum, dos mesmos personagens que são elevados à máxima fasquia, e duas semanas depois já não ouvimos falar deles, das repetições de main events e dos argumentos/desculpas para que se repitam (porque a WWE não teve a cautela de prever o futuro e preparar mais futuros grandes nomes a tempo, e porque neste momento carece de personagens e histórias interessantes)...

É verdade que nomes como Sheamus e The Miz começam a ser mais sonantes, e a ganhar o nosso respeito. O meu ganham-no, pelo menos, e eu detestava ambos. E também é verdade que não é fácil serem criativos 52 semanas por ano, e nunca se tentarem repetir. Grandes estrelas não se formam de noite para o dia, e é um processo moroso que demora anos a amadurecer... Mas não podiam tê-lo iniciado antes, em vez de nos fazer sofrer meses a fim de um reinado do John Cena como Campeão da WWE? (Mantenho: sou super-fã do John Cena, e de tudo o que ele faz para representar a empresa... Mas há limites para tudo)

Resumidamente, quando Vince McMahon quer indicar que não tem que se preocupar, porque a "UFC é desporto, e nós não", é das maiores burrices que um empresário de gabarito como ele pode dizer, particularmente quando alcançou grandes conquistas de um ponto de vista comercial no mundo do wrestling. Da parte do dono e grande visionário da WWE são argumentos que não pegam. É peixe que não vende.

E não que Dana White se tenha muito que preocupar, porque de facto a UFC é o novo fenómeno. É um facto. Mas a WWE é um portento. É dos maiores conglomerados de entretenimento que existe no mundo, e já o é há pelo menos duas décadas e meia. Não é à toa que tem vários milhões de fãs leais pelo mundo fora, e que o são desde a sua infância, ou até desde a sua jovem idade adulta (referindo-me, neste caso, aos fãs mais idosos).

Em suma: a UFC tem neste momento a vantagem, e a menos que a WWE se acautele e passe a dar aos seus fãs um conteúdo mais pensado, mais inteligente, mais trabalhado, independentemente do ramo em que esteja, vai acabar por se ressentir... e bastante.

Já não vivemos na era do Hulk Hogan, a de rezar ao menino, e de tomar vitaminas... Vivemos na era da UFC, onde a realidade é o que está a dar.

O próprio Vince McMahon diz "os tempos mudam, e nós temos que mudar com os tempos". Está na altura de pôr essa teoria em prática.

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