Thursday, February 18, 2010

Perspectiva: ECW / NXT


Foi ontem que se deu o fim oficial da terceira marca da WWE, o ECW, ou como os fãs da ECW original preferem chamar, e usando uma expressão cunhada pelos ECW Originals, o "WWECW".

Será seguro pronunciar uma opinião há muito partilhada pelos fãs da marca "extrema" da WWE: já não era sem tempo! Efectivamente, foi um fim misericordioso para uma marca que existia no mundo do wrestling antes sequer da WWE pensar em adquiri-la, que deixou a sua marca para a História da modalidade, e que ajudou a moldar parte do produto WWE para aquilo que é hoje.

Posto isso, em vez de continuar a escropiar e fazer render a essência deste produto que se queria inicialmente alternativo, pôr cobro a esta marca foi a atitude mais respeitosa que a WWE podia ter tido perante uma entidade que chegou ao seu auge em meados da década de 1990, a inigualável e insubstitível Extreme Championship Wrestling.

Para quem não saiba do porquê da ECW ter visto o seu "renascimento", partiu essencialmente do lançamento do DVD de documentário "The Rise and Fall of ECW", no qual é recontado todo o estilo extremista, a atitude vanguardista e irreverente, mas também o espírito de família inerente a uma promoção muito pequena, mas muito presente na cena independente do mundo do wrestling.

O documentário fez furor, vendeu um número de recorde de exemplares que excedeu as expectativas, e um sonho de longa data por quem fazia parte da antiga ECW veio à realidade: por apenas uma noite, e ao abrigo da marca ECW, muitos dos seus grandes nomes puderam voltar a dar espectáculo, e reunir desde os nomes mais conhecidos até aos fãs mais Hardcore. Por apenas uma noite, e para todos os envolvidos e apaixonados pela marca, foi o mais próximo possível de chegarem ao Céu na Terra.

O problema, como é inerente a qualquer entidade empresarial, independentemente da sua designação ou qualidade, é que tudo o que rende, depois tem que render mais. E aqui se começam a fazer compromissos no que toca à integridade de um determinado produto - compromissos esses que nem sempre beneficiam a essência original do mesmo.

Deu-se o segundo One Night Stand (fazendo deste evento talvez um "Two Night Stand"), e de seguida o renascimento da ECW como marca da WWE. O resto, como já sabem, está à vista.

O palco pequenino ao lado do mega-palco característico da WWE desapareceu rapidamente, as luzes para o público ligaram-se poucos meses depois, e pior, para além do estilo original da ECW, também começaram a desaparecer os ECW Originals, bem como a designação "Extreme Championship Wrestling" (que raramente era usada, e mesmo nunca de há coisa de anos para cá).

Daí para a frente, aquilo que era considerado ECW tinha morrido ou ficado pela estrada, tornando-se a ECW nada mais que algo parecido com o antigo Velocity, ou mesmo um SmackDown-menos-dez. Claramente, a típica mentalidade corporativa de não saber dar descanso aos fenómenos entrou em vigor acelerado, e quem pagou foi o público.

Mas não nos enganemos: penso que, no fundo, toda a gente que perceba um mínimo de wrestling, tem a sensação que a verdadeira ECW ficou morta, e bem morta, muito antes da WWE pegar nela, o que neste aspecto, é bom. Já disse o realizador Steven Spielberg aquando do documentário do vigésimo aniversário do E.T., um dos filmes mais afamados da História do cinema, "que razão teria eu para fazer uma sequela? Prefiro deixar o 'E.T.' conforme ele existe, em vez de estragar as recordações que proporcionou". Palavras bem verdadeiras que se aplicam tanto a um dos maiores êxitos da sétima arte, como se aplicam à existência, e fim dela, da Extreme Championship Wrestling.

Assim, já foi com muito sofrimento que ousei ver o último episódio do ECW que deu nesta noite de Terça-feira, e depois de uma dose de risos guturais irritantes do Tony Atlas no "Abraham Washington Show", de alguns combates de meio escalão sem grande interesse, e um main event com um fim mais que previsível, tenho apenas a dizer "Adeus e boas festas" à "WWECW". Em bom português: não se perde nada!

Resta-nos agora aguardar o início do novo conceito e nova marca da WWE, o NXT (lido mesmo em inglês como "ene-x-tee"), que se mostra como uma abordagem nova e bastante interessante ao conceito do defunto Tough Enough, no qual oito novos lutadores serão treinados por oito nomes da WWE (os Rookies, e os Pros, respectivamente) com o objectivo de conquistar o seu nome na maior promoção de wrestling do mundo.

Para além de proporcionar uma excelente oportunidade a estes novos talentos de se darem a conhecer ao "Universo WWE", o conceito de "reality show" misturado com a ficção da WWE é intrigante, e apelativo. Pergunto-me como se desenrolará o sistema em termos de história e "kayfabe", e até que ponto as duas se interlaçarão, deixando o espectador na dúvida em relação à veracidade do que está a ver? Aah, aí está o verdadeiro espírito do wrestling: "é real? Ou não é?". Se cumprir o prometido, o WWE NXT será por certo uma boa adição ao rol de programas da WWE.

O fim de uma era, o começo de outra. Pegando nas palavras do Undertaker no que toca à ECW: "Rest... in... peace".

Nós também descansaremos.

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