Sunday, April 30, 2006

PPV: WrestleMania 22

Alguém dúvida que a WrestleMania superou as expectativas? Foi mesmo "Big Time"! Do princípio ao fim (com alguns, mas poucos solavancos pelo meio), foi mesmo uma edição absolutamente espectacular.

“Pyro & Ballyhoo” (“espectáculo de pirotecnia e barulho”) diz o alinhamento que acompanhava as cassetes de trabalho. O último passo que nos prepara para o começo oficial de qualquer evento da WWE, neste caso antecipado por um video package muito bonito ao som da “Dare You” dos Shinedown - uma música que não será fácil esquecer, de tão bonita que é, e do quanto se apropria para o evento (“Hello, let me introduce you to the characters of the show; some stay young, some grow old”). E depois da pirotecnia, é agora visível um cenário bonito, cheio da grandeza, ao espírito da WrestleMania a que a WWE nos habituou, com a torre que todos vimos (presumivelmente a simbolizar a Sears Tower, marco principal de Chicago). O primeiro indício de que ninguém irá para casa insatisfeito.


CAMPEONATO MUNDIAL DE TAG TEAM
Big Show, Kane / Chris Masters, Carlito
Para minha grande surpresa, os Títulos Mundiais de Tag Team não trocaram de mãos naquela noite... mas sim, (e como já devem ter visto) na noite seguinte do Raw, perdendo Kane e Big Show os títulos com os Spirit Squad. Nada de especial a comentar, para além de gostar da semente da discórdia mais profundamente plantada entre Carlito e Chris Masters numa rivalidade que teve o seu início oficial (ainda que crescente no decorrer dos últimos meses) também no Raw seguinte.


COMBATE DE ESCADOTE “DINHEIRO GARANTIDO”
Matt Hardy / Rob Van Dam / Shelton Benjamin / Ric Flair / Bobby Lashley / Finlay

Avançamos então para o Combate de Escadote “Dinheiro Garantido” - o último dos meus “Top Três” da noite. E o que podemos dizer? Foi um combate absolutamente estrondoso com uma exibição de atletismo vário que já não via há bastante tempo. O Shelton Benjamin, para não variar, brilhou com um “running moonsault” e ainda mais com o “springboard” em direcção ao escadote (infelizmente não deu para ver, mas no recinto, ficou toda a gente parva!). O Rob Van Dam, entre várias manobras de alto risco, deixou-nos estupefactos com o seu “Van Terminator” do canto em direcção a Bobby Lashley, que por sua vez também não esteve nada de mal. Dentro do que sabe fazer, diria que esteve perfeitamente adequado. Ainda no que toca a manobras de alto risco, Matt Hardy não nos deixou de surpreender com o seu “leg drop da lua”. Finlay esteve especialmente bem e claro, o grande Ric Flair (“Woooo!”) também não desiludiu minimamente no seu segundo (!) Combate de Escadote, especialmente depois de sofrer um “superplex” de Hardy do topo do escadote - absolutamente impressionante!
Em suma, foi um combate absolutamente excepcional que parece estar a tornar-se tradição da WrestleMania - e com um contrato em jogo, que permite ao seu titular (neste caso, Rob Van Dam) lutar pelo título a qualquer momento que deseje nos 12 meses seguintes, o que deixa os fãs a magicar cenários, ainda bem que o está. Tornou-se uma belíssima adição a qualquer WrestleMania, digna de um evento de tão grande calibre.


CAMPEONATO DOS EUA
Chris Benoit / JBL
Após a apresentação dos celebrados do Corredor da Fama (os cânticos de “Eddie” estiveram mesmo em grande no recinto), tivemos então o combate de Benoit contra JBL pelo Títulos dos EUA, sendo o vitorioso “Deus do Wrestling” - vitória essa que muito me surpreendeu, porque após uma longa e exaustiva Série à Melhor de Sete na qual Benoit, dentro da história, finalmente provou que merecia o título (nunca o tendo perdido justamente), não esperava que o “Rabid Wolverine” perdesse o título tão cedo... Será interessante ver o que acontece nos próximos tempos com o milionário “self made” e novo Campeão dos EUA, JBL.


COMBATE HARDCORE
Mick Foley / Edge

E ao passo que ainda não chegámos a uma época “extrema” (refiro-me claro, ao One Night Stand da ECW, com emissão nos EUA dia 12 de Junho), tivemos um cheirinho do que se avizinha neste Combate Hardcore entre Mick Foley e Edge que também não desiludiu. Edge recebe mais uns pontinhos de respeito da minha parte, por se provar um “worker” bom o suficiente para colocar o próprio corpo em risco em situações... extremas como esta. Um ombro furado por arame farpado, costas furadas com pioneses, queimaduras de segundo grau num braço e uma ferida na cabeça praticamente aberta, e bem visível no Raw que se seguiu (e não esquecer os seis pontos que Mick Foley leva, em imagens exclusivas nos Extras do DVD da WrestleMania), Edge e Mick Foley deram-nos um combate de se lhe tirar o chapéu.

Num aparte: a meu ver (e independentemente de qualquer opinião em contrário), penso que o Edge se está a mostrar como um “heel” de primeira categoria com a nova “gimmick” de “Rated R Superstar”, oriunda do rescaldo do escândalo Edge/Lita/Hardy. Só mostra que, pontualmente, as situações com mais naturalidade e espontaneidade são as que vêm a ter mais sucesso e apesar de ter sido um episódio que tenha pesado na vida pessoal de Adam Copeland, foi um mal que, vemos agora, veio por bem. Penso que a “Rated R Superstar” está aqui para ficar com a nova vida que o personagem adquiriu e ainda bem. Não há nada melhor que estrelas que os fãs adorem detestar para dar vida ao negócio do wrestling, enaltecendo ainda mais os “faces” que com elas se confrontam. Não há nada pior que a zona cinzenta.


BOOGEYMAN / BOOKER T (com Sharmell)
Que é onde esta rivalidade nasceu e por lá ficou: Boogeyman vs. Booker T. Em prol do “push” que era preciso dar a um personagem (no qual a WWE está nitidamente a apostar), nasceu uma das rivalidades mais secantes de que me lembro - com base num homem desdentado que come minhocas. Mas o mal nem é tanto o facto da rivalidade ser secante - é mesmo o facto do Boogeyman ter combates de cinco minutos que nada mostram do talento que a WWE possa ter visto nele, que não nos mostra nada de especial para além de minhocas e um belo “pump handle slam”. Vem-me à cabeça o cenário “Ultimate Warrior” - a entrada e a caracterização são mais vistosas que os combates. Pergunto-me ainda a razão pela qual este combate a meio do cartaz e não mais cedo.

É assim que este combate calha na definição “popcorn match” (termo usado pelos americanos para os combates em que, durante os quais, o público se levanta para ir buscar pipocas. Ou cerveja, neste caso) sendo merecedor (é essa a palavra) de alguns cânticos de “boooring” da parte do público. Já dizia o Bill Goldberg: “next!”


"FREAK SHOW"
Porém, a promo que se antecipa ao combate, que não esteve disponível na “versão radical” (como eu refiro) e está disponível na versão para DVD, também com Booker T é absolutamente imperdível! Para quem já a viu, há de se lembrar do Eugene, Goldust, Paul Burchill, Snitsky entre outros a formar uma espécie de “freak show”; todos juntos (e cada qual mostrando um ar da sua graça) tentam convencer o Booker T que não há nada de mal em gostar dos “freaks” e para ele não temer o Boogeyman. Claro que ele só sai mais enervado ainda para o combate. Imperdível.


CAMPEONATO FEMININO
Mickie James / Trish Stratus
Voltando ao alinhamento de combates, após o primeiro “solavanco” da noite (o já referido Boogeyman / Booker T com Sharmell), entramos agora na divisão Feminina com o combate pelo Título Feminino entre Mickie James e Trish Stratus. Esta sim, uma rivalidade muito bem conseguida desde o início, com a Mickie James (que está a brilhar tanto no ringue como no microfone, positivamente) como fã obcecada pela Trish Stratus, que por sua vez, também está fazer um belíssimo papel em dar vida à história. Em suma: um combate mesmo muito bom entre uma veterana e uma novata muito prometedora. Agora que Mickie James detém o título, pergunto-me o que mais nos espera no horizonte.

Segue-se uma promo (mais uma vez, só disponível na versão para DVD) que deixou o público a rir às gargalhadas com Vince e família, a falar com... Deus. E para quem não teve a oportunidade de ver essa promo, cá vai uma pequena tradução da mesma:


EXCLUSIVO WRESTLING TRADUZIDO:
Promo Vince e Família
(Vince exibe físico para a família, que comenta, entusiasmada)

Vince: “Imaginam-me a mim, Vincent Kennedy McMahon, a rezar? (todos dizem que não) Então sabem que mais? É isso que vou fazer. Aliás, é isso que nós vamos fazer.
Vamos ter a nossa primeira oração da família McMahon.

Todos de joelhos. Vá. (dirigindo-se à Stephanie) Eu sei que estás grávida. Ajoelha-te.

Shane: - Estás a falar a sério?
Vince: - Estou.

Stephanie: Está bem...

Vince: Fechem os olhos e baixem a cabeça. (De joelhos, Stephanie mostra-se confusa, não sabendo como apertar as mãos)

Deus... Convenhamos. Não gosto de Ti e Tu não gostas de mim.(grande reacção do público) Desafiei todas as leis que alguma vez impuseste e no entanto sempre tive um sucesso enorme! E imagino que nunca pensavas que um homem de 60 anos tivesse o físico herculeano que eu tenho. E eu sei que Tu e eu não nos damos, mas sei que Te dás muito com o Shawn Michaels. Hoje, Deus, quero dizer-Te o que vou fazer com o Teu favorito: vou mandar o Shawn Michaels para as profundezas ardentes do inferno!

Vince: Ámen!

Todos: Ámen!

Vince: Aleluia!
- FIM -


COMBATE DE CAIXÃO
Undertaker / Mark Henry
Apesar de me ter mostrado algo reticente quanto à vitória de Undertaker na minha presença do Duplo Impacto 27, este pequeno medo de uma vitória por (aquele cujo nome não deve ser pronunciado ;) ) mostrou que não tinha razão de ser. O “Morto” mantém o seu historial invicto na WrestleMania absolutamente imaculado, perfazendo a sua 14ª vitória a zero no maior palco de todos. E se há algo que devo salientar no que toca a performances, é a de Undertaker, que carrega em pleno este combate, não desiludindo de forma alguma. Prova disso é o salto que dá para fora do ringue em direcção a Mark Henry, que deixou o público boquiaberto. Não esquecer que Mark Calaway, a pessoa que dá vida a Undertaker, está nos seus 44 anos e tem 2,10m de altura e cerca de 140 quilos de músculo. Não é todos os dias que vemos alguém dessa dimensão a passar por nós, quanto mais a dar um salto de três metros de comprimento para fora de um ringue. Em suma, foi um combate bom. O salto (e o “Tombstone Piledriver” no não menos leve Mark Henry) é mais uma bela recordação que o “Morto” nos deixou.

COMBATE SEM LIMITES
Shawn Michaels / Vince McMahon
O segundo do meu “Top Três” da noite. Que comentários há para fazer? E é preciso fazê-los? Mais uma vez, Shawn Michaels, o “Mister WrestleMania” deixa-nos boquiabertos (também ele carregando o combate com uma bela intervenção de Shane McMahon) com uma performance absolutamente notável no âmbito do Hardcore, que, culmina com um salto de quase quatro metros (!) em direcção ao imóvel boss Vince McMahon, marcando um “ponto final-parágrafo” numa história que se tem mostrado cativante desde o início (e que promete ter continuação no Backlash).

Não é preciso dizer muito. Basta ver. “The Showstopper, the headliner, the icon, the main event!”... Entregue e recebido com uma vénia.


CAMPEONATO MUNDIAL
Kurt Angle / Rey Mysterio / Randy Orton
Ora aqui temos um bom combate com belíssimas entradas (especialmente a de Kurt Angle, apesar da de Rey Mysterio também ter sido muito boa com a presença dos P.O.D.)... mas com um dos desfechos mais polémicos que me vem à memória. A questão não é o modo como acabou - mas quem venceu o combate. E é assunto de grande debate entre os fãs um pouco por todo o mundo fora. “Rey Mysterio? Campeão Mundial de pesos pesados? Não faz sentido”. E se calhar não faz... Ou talvez até faça. Ao passo que considero que, efectivamente, dentro do mundo ficcional que nos é apresentado pela WWE, não faz sentido as classes de peso de repente deixarem de existir, no que toca a história (e até marketing para a população latina nos EUA), faz todo o sentido que um dos melhores amigos da vida real de Eddie Guerrero supere todos os obstáculos, acabando por, na história, ganhar o título em honra do falecido amigo. Também não é segredo que Rey Mysterio seja um dos nomes mais sonantes da WWE, um dos preferidos dos fãs e como tal (e com a falta de Batista, Eddie Guerrero, entre poucos outros que ajudam ao “star power” da marca SmackDown!), faça sentido que ele seja premiado com o título.

Desconhecemos qual a razão ao certo para a vitória de Rey Mysterio. O que é facto é que, na história, a dica já tinha sido dada com o destaque “Histórias de Desfavorecidos” no WWE.com e na revista com Rey Mysterio na capa. Seria a derradeira “história de desfavorecido”, pensava eu, que um atleta ganhasse o título numa classe a que não pertence, após a morte do melhor amigo. Que melhor modo de lhe prestar homenagem? E foi... Porém, os dias enquanto campeão parecem-me contados.

Rey Mysterio é um atleta fenomenal, um entertainer magnífico, um dos catalisadores para o produto da WWE (tantos amigos meus que começaram a ver o SmackDown!, só por causa dele) - mas não pertence à classe do título que detém. E compreendo que, à falta de melhor por ora seja ele a deter o título (porque com Kurt Angle a ser brevemente operado, Batista na recuperação e Randy Orton suspenso, é esse o facto), e realmente deu uma história muito bonita. Mas será uma história curta.


LUTA DE ALMOFADAS DA PLAYBOY
Candice Michelle / Torrie Wilson
Ganharam os olhos. Next!


CAMPEONATO DA WWE
Triple H / John Cena
A primeira posição do meu “Top Três” desta WrestleMania. Na minha opinião muito pessoal, foi o combate da noite. Tanto John Cena como Triple H tiveram entradas brilhantes. Gostei especialmente da entrada do Triple H, “The King of Kings”, com a sua nova música de entrada (gosto muito da “Time to Play The Game”, mas espero que esta se mantenha), com a sua fatiota à Conan, o Bárbaro, sentado no trono com caveiras (e uma marreta gigante, um toque que eu achei engraçado). Toda ela, uma entrada simples e muito bem produzida. Lembro-me que já tinha visto o mesmo tipo de imagem, desenhada por um fã há mais de um ano, mas sem a coroa e com um Triple H e respectivo trono mais sujos, de modo geral - não sei se terá sido coincidência, mas o papel assenta-lhe lindamente.

John Cena também não ficou aquém, com uma entrada muito boa, muito à anos 40, com os guarda-costas a entrar no carro, ao estilo do Al Capone. (Como já se tinha visto no combate do JBL contra Chris Benoit, achei a ideia da rampa se levantar, à falta de espaço para os carros passarem, brilhante!)

“Chain Gang”, raps, bling-bling e atitude de rufia à parte. John Cena, a pessoa, o lutador, pode ser limitado - mas ninguém o pode acusar de ser mau “worker” no ringue e muito menos mau com o microfone, que é onde realmente brilha. A meu ver, independentemente de opiniões contrárias, John Cena, enquanto Sports Entertainer faz bem o seu trabalho num combate. Sim, tem um “finisher” que não lembra ao menino Jesus... mas vende bem os ataques do adversário. E quando quer, vende bem até os próprios ataques. É dinâmico no ringue. É agressivo. E nenhum obstáculo é grande demais para ele superar e proporcionar um bom combate (a menos que se tenham esquecido do belíssimo No Holds Barred entre Cena e JBL no Great American Bash de 2005) Não está nada aquém da posição de Main Eventer que detém. E como tal, tem todo o estofo para enfrentar um dos grandes da actualidade, cujo nome permanecerá na História, Triple H.

O público estava incansável. Algo “torto” e partidário, sim - mas incansável, como se pode ouvir, e bem, na televisão. O público (independentemente da opinião que pudessem ter) vibrou! E para quem tenha gravado a WrestleMania, num combate que demorou aproximadamente meia hora, o público esteve em pé durante quase metade do tempo do combate. E no fundo, o que importa é pôr o público a vibrar, a torcer pelo bom, a apupar o mau, sejam eles quem forem. É mesmo essa a origem do wrestling: pôr o público a reagir. (Já diz o Vince McMahon: “o pior som que podemos ouvir neste ramo é o silencio; significa que não estão interessados). Gostem dele ou não, o que importa é que o combate está a puxar pelos fãs.

Sim, o público está farto do John Cena - mas daí a serem insultuosos, vai uma longa distância. Já o JR comentou “um cântico muito original”... e francamente, não é necessário. É degradante. É escusado. O público de wrestling tem a reputação de apreciar o bom espectáculo que lhes é proporcionado, mas ao mesmo tempo, de ser muito respeitoso pelas Superstars. Talvez pelo público de Chicago ser dos que mais vibra com o pro-wrestling (local de origem do mesmo), talvez por terem uma opinião tão própria... mas cânticos de “f*** you, Cena” em nada ajudam, e são escusados, a meu ver.

E talvez com a atitude de “cá se fazem, cá se pagam”, quiçá descontente com a reacção do público e só para mostrar que pode (especulo eu), Vince McMahon optou por não seguir o exemplo da WrestleMania passada, na qual ambos os maiores títulos trocaram de mãos - e assim (para grande surpresa minha), manteve o título em John Cena. Por mais que, no fundo, eu simpatize com o John Cena e não o considere mau lutador de modo geral, estava com bastante vontade de ver o “Rei dos Reis a voltar ao trono”. Não foi o caso. Sê-lo-á? Quando e com quem perderá finalmente Cena o título?

São questões que veremos no decorrer daquele que, na nossa “realidade radical”, começou na semana passada: o Ano WWE 2006/2007. Que surpresas nos aguardam? Que rivalidades novas? E qual será o destino de retornados como Batista e até Mister Kennedy?

Por ora, ficamos com as recordações de uma WrestleMania que fez jus ao nome: “Big Time”. Não desiludiu. Nunca desilude. E ao passo que 17 mil estiveram no evento em pessoa, por terras lusas e como já relatado, 130 mil assistiram ao mesmo na nossa Radical.

Numa palavra: "Espectacular".

No comments: