Thursday, January 12, 2006

"Wrestling??" - Origens

Fãs de wrestling, como eu: não fiquem frustrados quando alguém não conhece o vosso desporto favorito.

Não fãs: não subestimem esta forma de espectáculo, pois pensamos haver boa razão para ter milhões de seguidores e milhares a aspirantes de participantes no mesmo pelo mundo fora.

"O que é o wrestling?". Pergunta essa que deu início à introdução à entrevista do Curto Circuito, do dia 28 de Novembro do ano passado, da qual tive o privilégio de fazer parte. Pela comunidade fora, houve quem ficasse ofendido que alguém pudesse cometer a tamanha atrocidade de fazer tal pergunta. Mas pensemos, primeiro, que wrestling nunca esteve em vias de ser adorado por todo o país como o futebol.

Pensemos, antes disso, que o wrestling era relativamente desconhecido até ao início da década de 1990 por este país. E tudo o que as pessoas se lembram das emissões do programa WWF Superstars - numa altura em que a sigla da actual WWE era diferente e Raw e SmackDown! não existiam como marcas ou como programas - eram os comentários do falecido Tarzan Taborda e da (passo a expressão utilizada por muitos, ainda hoje) "fantochada" que tudo parecia.

O wrestling nunca será o desporto de eleição de todos os portugueses. É um facto incontornável. Mas pelo reverso da medalha, há cada vez mais portugueses que gostam de wrestling; os factos estão à mostra. Mais programação: mais presença do produto da WWE em Portugal. Períodos de jogos de wrestling esgotados para as consolas. Quem sabe, para o ano a própria WWE nos honre com a sua presença. Nós, fãs, estamos a viver uma época verdadeiramente histórica, na medida em que estamos a testemunhar um "boom" do wrestling em Portugal. Estamos a assistir ao sucesso de uma tentativa outrora falhada na época do Tarzan Taborda enquanto comentador do produto da WWF; estamos a assistir à propagação do wrestling. E se números em alguma coisa ajudam, sei de fonte segura que metade dos utilizadores da TV por cabo assistem a wrestling, um número que só tem vindo a aumentar desde a reintrodução do produto em Portugal.

Quer se goste, quer não, é uma batalha em bom caminho de estar ganha. Começámos oficialmente o terceiro ano da programação da WWE em Portugal, com o resto do ano de emissão garantido, emitindo dois dos programas de referência da World Wrestling Entertainment, com os quais tenho todo o orgulho em trabalhar.

Mas para quem tenha vindo parar a este blog por mero acaso e ainda se pergunte "porquê o fascínio?" e até "mas o que é o wrestling - ao certo?", poderei explicar em três simples palavras: teatro com desporto. Uma das mais recentes formas de arte trazidas ao mundo (enquanto entretenimento) em fins de 1800, era realmente vista pelo público como um desporto legítimo. Pouco antes da Guerra Civil, realizavam-se combates para a diversão do público em feiras regionais dos Estados Unidos - mas era rara a pessoa que sabia que os combates eram programados e combinados de antemão, levando o público a gastar o seu dinheiro merecido em apostas; apostas essas que fariam que todos os envolvidos no combate lucrassem. Combate esse que era uma mescla de conhecimentos técnicos de luta com a capacidade de brincar com o público, provocando as mais diversas emoções no mesmo.

Com o passar do tempo, já em meados da década de 1960, o desporto havia crescido, espalhando-se ao longo de um sistema territorial, e com esse crescimento, o nascimento de várias promoções regionais e estaduais ao longo dos Estados Unidos, sendo, entre outras, algumas das mais famosas (e agora defuntas) American Wrestling Association, a National Wrestling Alliance e a World Wide Wrestling Federation, fundada por Vincent McMahon, juntamente com Toots Mond. Apesar do wrestling já ser um grande sucesso (e ainda um negócio muito protegido na medida em que era o objectivo principal manter o público às cegas quanto a como realmente funcionavam os combates) foi o filho, Vincent Kennedy McMahon (por todos nós conhecido como Vince McMahon), que tinha uma visão e uma ambição maior que qualquer um dos seus antecessores. Encurtou o acrónimo WWWF para WWF (World Wrestling Federation).

Com um amor e interesse pelo negócio em que o pai estava envolvido, apercebendo-se do seu potencial e através de muita dificuldade, já com bastante experiência enquanto promotor, Vince McMahon Jr. conseguiu comprar a empresa ao pai e daí criar a génese do que viria a ser um fenómeno mundial.

Através da contratação de lutadores muito talentosos, de outros territórios ou à espera de serem descobertos, Vince McMahon foi alargando a estrutura da sua promoção, que crescia a olhos vistos, pouco a pouco levando outras promoções subaproveitadas ao seu fecho, com uma empresa cada vez mais rica em meios e talento e com muita procura do público.

Mas só após a contratação na década de 1980 de um senhor chamado Terry Bolea que o wrestling explodiu mundialmente. O dito senhor, com o nome artístico de Hulk Hogan, estava a fazer furor em várias promoções e, interessado, Vince Jr. contratou-o. Estreando-se nos programas realizados pela WWF, pouco a pouco nascia o grupo de fãs daquele que na altura era considerado um gigante, que atraía tanto os mais novos como os mais velhos, juntos sob o mesmo tecto para o mesmo espectáculo: a Hulkamania.

Foi este fenómeno que lentamente começava a ser assistido um pouco por todo o mundo fora que deu o derradeiro impulso ao wrestling e a todo o espectáculo nele inerente. O magnetismo desta Superstar era inegável. A sua presença, dentro e fora do ringue era inigualável, fazendo furor para onde quer que fosse, chegando até a emprestar a própria voz a um programa de desenhos animados sobre wrestling e entrando até no filme "Rocky III", contracenando com Sylvester Stallone e o famoso Mr. T da série "A-Team", que chegou a aparecer na WrestleMania 2 num combate com "Rowdy" Roddy Piper.

Se o Vince McMahon era o cérebro, o Hulk Hogan era o coração e ambos faziam o wrestling palpitar e vibrar com força. A Hulkamania, porém, só teve o seu nascimento oficial na primeira edição da WrestleMania em 1984 realizada no Madison Square Garden em Nova Iorque; um espectáculo de proporções enormes (assim considerado na altura) repleto de estrelas conhecidas em Hollywood e do mundo da música, considerado uma aposta ousada que veio a provar o seu sucesso e que deu lugar a todas as WrestleManias seguintes. Com um apelo óbvio a tudo o que é mundo do show business, o fenómeno do wrestling e o mito da Hulkamania haviam-se instalado definitivamente.

Perto de 22 anos após a primeira WrestleMania, ainda hoje o evento mais conceituado de todo o wrestling e passando por grandes nomes como "Macho Man" Randy Savage, Jake "The Snake" Roberts, Ultimate Warrior, "Rowdy" Roddy Piper, Bret "The Hitman" Hart", The Undertaker, The Rock, "Stone Cold" Steve Austin, entre muitos outros dignos de nota, (cujas contribuições foram igualmente importantes para lançar e manter o wrestling na ribalta) com um espectáculo todo ele teatral, cheio de efeitos de luzes, pirotecnia, música, personagens vários e histórias elaboradas, é seguro dizer que a visão de Vincent Kennedy McMahon se tornou uma realidade. Realidade essa admirada por milhões e milhões de fãs e apreciadores desta forma de arte pelo mundo fora.

No fundo, em resposta à pergunta colocada: é isto o wrestling, o que sempre foi. Um modo de diversão e escape ao dia-a-dia, que combina as mais variadas artes de luta com entretenimento, com personagens extravagantes que levam o público a sentir uma miríade de emoções, contando histórias com um espectáculo visualmente aliciante e deslumbrante, tanto nos efeitos visuais que o rodeiam, como na belíssima demonstração de espectáculo físico e de dimensões agradavelmente exageradas, deste género de seres humanos sem igual, que nutrem uma profunda paixão pela área em que se encontram; área essa que não é meramente um posto de trabalho, mas sim o seu chamamento e razão de viver.

E é por isso que eu e muitos fãs gostamos deste espectáculo. E fãs nunca são demais.

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