Há imagens que valem mil palavras, mas estas merecem um testamento.
Desde a entrada de Hulk Hogan no Impact do afamado dia 4 de Janeiro de 2010, a coincidir com o muito aguardado regresso de Bret Hart no Raw do mesmo dia, que se esperava uma reviravolta no panorama do wrestling. Os discursos de Dixie Carter mais lembravam a campanha eleitoral americana, nos quais anunciava a necessidade emergente de uma mudança. "We need change"! (Ou seria mais ao estilo do 'Vai Tudo Abaixo na América', fraseado de mão esticada a pedir moedinha "change we need"?)
Era a vinda do Hulk Hogan, simplesmente o nome mais sonante de sempre do mundo do wrestling. Uau! E dentro da limusina e acompanhado de escolta policial, traz com ele o "arquitecto" das Monday Night Wars, Eric Bischoff: Uau!! E ainda trazem mais amiguinhos como os Nasty Boys, os ex-NWO Scott Hall e Sean Waltman, o Jeff Hardy e mais-outros-nomes-que-se-calhar-nem-interessam-muito,-mas-que-eram-da-WWE-e-agora-são-da-TNA: UAU!
Primeira burrada da noite da parte do "Imortal" Hulk Hogan: "estive a tarde toda nos bastidores"... Boa, deixa lá a limusina que supostamente te levou até à tua entrada depois de meia-hora de viagem, quando afinal estiveste nos bastidores antes de ires para o ringue. Kayfabe, não?
Se há momentos em mudanças que marcam uma tónica, este é capaz de ter sido o mais marcante, e que talvez devesse ter sido um prenúncio a quem tivesse dois dedos de testa, que afinal a TNA ia mas é ficar pior do que já estava.
Mudanças "radicais": a entrada passou a ser uma, o ringue já tem quatro lados (finalmente), entrou o Rob Van Dam, entre outras. E claro, não há nada como boas luzes e transmissão em alta-definição, para se ver bem em casa o desastre que para ali vai.
Audiências das últimas emissões do Impact e do Raw quase quatro meses após muita mexidela na TNA? Raw: 3,2. Impact: 0,8.
Penso que já me começo a fazer entender.
Um dos grandes males de toda a TNA, é que pensam que estão outra vez na década de 90 em plenas Monday Night Wars, onde o Raw e o Nitro estavam constantemente cara a cara, e o Raw até chegou a perder na guerra de audiências durante, alegadamente, 83 semanas seguidas, e como tal, continuam a recorrer aos mecanismos de "entretenimento barato" para, de alguma forma, talvez com um toquezinho milagroso, tentar suplantar o programa-líder da WWE de há 14 anos para cá, o Monday Night Raw.
A última "proeza" foi Jeff Hardy ter levado uma cuspidela de fogo de Beer Money (um belíssimo nome), o que o causou a ficar com a pele queimada e às bolhas, e que o levou a desejar (por via da namorada no seu Twitter) que a TNA nunca mais lhe pedisse para fazer algo assim.
E a TNA ainda se afirma como "family friendly"! Traduzo: programação adequada para famílias?! A WWE é direccionada para maiores de 12 anos há quase dois anos, e ninguém anda a cuspir bolas de fogo na cara dos outros! Ah, e a as imagens não foram transmitidas por serem "muito violentas". Hipocrisia? Antítese? Falso marketing? É só escolher.
Para além da empresa gerida por Dixie Carter ter posto em risco, voluntariamente, e sem qualquer objectivo claro, a saúde de um dos seus atletas, a dita empresa parece querer ficar perpetuamente presa na mediocridade com más apostas, más decisões, e novamente, na falta de rumo que demonstra de forma consistente.
Se o objectivo é esse, Hulk Hogan ou não, são devidos os parabéns, que estão a consegui-lo.
Se não é, lamento dizer que vão em muito mau caminho.
Numa realidade actual em que o wrestling, de forma geral, está cada vez mais próximo de ser vistoriado pelo Congresso Americano, e a ser regulado por um organismo (doa a quem doer) e tendo em conta que até a própria WWE baniu para sempre cadeiradas na cabeça dos seus atletas, de forma a evitar graves danos a longo prazo, e numa actualidade em que a saúde de todos os atletas de qualquer empresa de wrestling é prioritária e mandatória, este tipo de acções apresentadas num espectáculo são completamente repreensíveis e inadmissíveis.
E no fundo, para gerar o quê? "Cheap heat"? "Shock TV"? O que é que a cuspidela de uma bola de fogo na cara de alguém ajuda a uma história?
É preciso dois oponentes fortes para realmente haver uma guerra. Fica aqui assente que é por estas e por outras que a TNA, enquanto se mantiver no rumo actual, nunca vai ser um adversário de gabarito para a WWE, e vai continuar a ser vista como motivo de chacota por quem perceba minimamente do assunto.
E porque a concorrência ajuda a crescer quem nela está envolvido, é pena, para as respectivas empresas, e para os fãs.
"Monday Night... 'WAR?'"
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