Monday, December 01, 2008

WWE vs. CCW e o Fenómeno do "Mark"

Hulk Hogan, o "Imortal", ex-Campeão da WWE, mestre da Hulkamania e do quase infame "leg drop"... E juntamente com Eric Bischoff, criador da nova série Hulk Hogan's Celebrity Championship Wrestling (vulgo CCW).

Quem tenha acompanhado minimamente, sabe do que eu falo: um novo reality show no qual o "Hulkster", Eric Bischoff, ex-manager Jimmy Hart e outras dez personalidades famosas dos Estados Unidos são as estrelas, acompanhadas ainda pelo "Nasty Man" Knobs, e Brutus "The Barber" Beefcake, ambos ex-estrelas da WWE ainda de tempos da WWF Superstars.

O objectivo do programa? Entre as dez celebridades, que contam com personalidades como Dennis Rodman e Danny Bonaduce, uma terá de mostrar que merece ganhar o título da CCW, bem como um chorudo prémio monetário.

O objectivo será assim conseguido, pois os dez famosos dividem-se nas duas equipas Team Nasty, e Team Beefcake, e semanalmente vão passando por provas que podem constituir a sua eliminação, que mostram o cerne da preparação para o wrestling, e que lhes fazem sentir na pele que este desporto - como já diz quem entende da matéria - "não é ballet".

O conceito é bastante apelativo, e admito até que, estando a par desde o segundo episódio daquela que promete ser a primeira temporada, me tornei fã da série.

A questão é que nem toda a gente é fã, a começar pelo boss da WWE, Vince McMahon.

De acordo com o mesmo, e as sempre fidedignas (mas por vezes duvidosas) fontes da Internet, McMahon detesta a nova criação de Hulk Hogan, afirmando que "expõe demais a indústria", chegando até a declarar que quem estiver associado com o programa CCW ou a sua produção, verá as suas portas bem fechadas na WWE.

A minha questão prende-se pelo argumento do "expor demais a indústria"... Desculpem qualquer coisinha, mas entre lançamentos de livros como o do Mick Foley (lançado pela WWE), Chris Jericho (lançamento independente), entre outros, e mais lançamentos de DVD's biográficos como é o caso do DVD de Shawn Michaels ou até de Bret Hart (ambos lançados pela WWE), chegando até à profunda disseminação daquilo que eram informações "insider" na Internet, que só não chegam a quem não quer, o "business" não terá já bastante sido exposto?

Acreditará o dono da WWE - ou alguém de um mínimo bom senso - realmente, que estamos outra vez em 1960, e que a integridade da ficção tem de ser protegida a todos os custos, quando até os jornais nacionais e internacionais elaboram minimamente acerca de como funciona o wrestling, quando é preciso falar acerca de algum assunto relativamente ao tema? Digo até: um indivíduo conhecido como "mark" - considerado como que um ignorante nas lides do wrestling - não será quase uma espécie em extinção?! Ou será preciso o próprio Undertaker levantar-se das tumbas do inferno e proclamar que esse tipo de sujeito descanse em paz, para finalmente oficializarmos a coisa?

Sou inclusivamente da opinião que, se os programas da WWE tivessem um génerico final, onde, no mínimo se pudesse ler "Written by" (ou "Argumento de"), a WWE teria muito menos problemas com os marquitos que restam - que são poucos, mas que às vezes são como carraças, dado a posição que terão eventualmente nos media. E para ser sincero, eu teria de passar muito menos tempo a dar à língua sempre que me perguntam "Traduzes wrestling? Mas isso não é tudo a fingir?"...

Acredito piamente que não seria uma tomada de posição oficial da WWE no sentido de assumir a ficção do seu conteúdo que alguma vez iria prejudicar fosse o que fosse. Os miúdos continuariam a gostar do Rey Mysterio, os lutadores mais atléticos continuariam a dar uma belíssima prestação acrobática, os lutadores de maior "peso" continuariam a impressionar com o tamanho e demonstrações de força, as histórias continuariam a ter um drama cativante - ou pelo menos as melhores - e os bilhetes para a WrestleMania continuariam a ser vendidos anualmente como pãezinhos acabados de sair do forno. Afinal, todos sabemos que é "a fingir", e não é por isso que deixamos de ser cativados pelas histórias, pelos personagens, e pelo que os atletas (e as atletas) que os encarnam conseguem fazer no ringue.

Na minha opinião muito pessoal, para além do programa de Hulk Hogan ser até bastante divertido, e para além de incutir algum respeito aos famosos (e aos não famosos) evidencia bastante bem o que custa a chegar ao estatuto de "jobber" - quanto mais "main eventer" - deixa bastante claro para aqueles que continuam a não perceber o tema as dificuldades com as quais os lutadores, e aqueles que almejam sê-lo, se deparam na sua tentativa de ascensão num ramo que, de fácil, não tem nada, e que continua a ser largamente subvalorizado pelo público em geral.

Sei que, para os mais puristas, McMahon tem toda a razão no que diz... Mas convenhamos que a verdade está cada vez mais à tona, e até a própria WWE vai contribuindo para isso. Quanto tempo será necessário passar até que se assumam como simplesmente - e verdadeiramente - entretenimento, como o próprio Vince McMahon gosta de decretar?

O vencedor nesta matéria: CCW.

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