Sunday, December 30, 2007

O Wrestling em Portugal: Revisão de 2007

É verdade, 2007 está apenas a alguns dias de acabar: dois, para ser exacto. No final do ano passado, eu estimei que este seria o "Ano de Ouro WWE" - mas como só consigo estimar, e não prever o futuro, a minha estimativa esteve um pouco longe de ser concretizada. E porquê? Vamos abordar este assunto de modo franco e directo.


SmackDown! (e o erro da SIC):

Já para começar, tivemos a situação do SmackDown, que da parte da SIC, e a meu ver, foi um disparate completo. O programa mais bem sucedido de 2006 da Radical viu a luz DUAS vezes no terceiro canal generalista da televisão portuguesa. Uma, em Novembro do ano passado, a outra, em Janeiro do corrente ano. Na primeira, não se deu mal, mas dado o target específico ao qual o segundo programa da WWE é dirigido, e dada a sua natureza já controversa (é wrestling. Está tudo dito), foi para o ar com o intuito de ser um teste e nada mais.

E como não há produto que resulte bem que não sofra possíveis modificações (eventualmente para melhorar algo que já resulta bem??), a segunda vez que foi emitido foi em horário da tarde, exposto a todas as faixas etárias (o que, dado o target ideal para o qual é vocacionado, não é bom) e ainda por cima, comentado em português por mim e pelo Diogo Beja.

Ao passo que foi um orgulho ter feito parte, ainda que momentaneamente, do rol de locutores internacionais da WWE, e ter sido um prazer e uma honra fazer de comentador principal ao lado do já conceituado e conhecido Diogo Beja (homem esse a quem tenho o prazer de chamar amigo), foi um erro absoluto da parte da SIC ter tomado a decisão de inserir comentários em português, sem sequer previamente consultar a WWE. Eu sempre defendi isso, e a dupla de Beja e Botas também o defenderam. O produto é idealmente "consumido" (ou visionado) com os comentários originais, feitos por pessoas que têm anos e anos de carreira e experiência naquele ramo específico, dirigidas pelas pessoas (ou pessoa) que criaram o wrestling enquanto forma de entretenimento a nível mundial. E, dada a falta de direcção e conhecimento desse programa específico que é o SmackDown, e não obtendo os óptimos resultados que a SIC com certeza desejava, o SmackDown deixou de ter lugar no canal.

Outro factor que contribuiu para que o SmackDown saísse do ar, foi o facto de haver pessoas em lugares chave dentro da SIC (que não Radical), que simplesmente não queriam saber do SmackDown, nem do sucesso que este tinha ou deixava de ter, simplesmente por não gostarem de wrestling.

Ora, dita-me o senso comum, que se eu estou a colocar à disposição um produto a um público, não preciso necessariamente gostar deste produto, se afinal tem procura, e vende. Se o SmackDown "vendia" (audiências = receitas publicitárias = dinheirinho), porquê tirarem-no do ar?!...

E nisto entram quase oito meses de interregno, em que o público fã da WWE fica a chuchar no dedo, à espera que o seu programa favorito voltasse. Durante este tempo, porém, e no meio das negociações falhadas entre a WWE e a SIC, um novo candidato já se avizinhava, de forma a salvar a situação (o máximo possível) e tirar partido da fama da WWE, também o máximo possível - uma estratégia lógica, com sentido e bom "business sense", como devia ser a prioridade para qualquer empresa que compre um produto, seja ele de que natureza for.

É, então, a Sábado dia 18 de Agosto, às 9 horas da manhã na TVI, que o SmackDown volta a ver a luz do dia, e desta vez para um público bem maior. Uma oportunidade bem pensada e bem aproveitada por parte do quarto canal generalista.


O Raw e o ECW na Radical:

Então, restaram dois programas da WWE (mais Especiais) na Radical: o Raw e o ECW. Qualquer pessoa que não compreenda o wrestling e saiba que a WWE tem três programas semanais, há de pensar que a falta de um não há de ser grande problema; afinal, ainda restam dois. O problema... é que problema! Num ano em que a WWE optou por fazer PPV's (Especiais) multimarca, com as três marcas envolvidas, e sendo que as histórias se ligam entre os programas com o intuito publicitário de todas, e sendo que os PPV's apresentam pontos chave nas histórias das três marcas, os produtos televisivos principais da WWE (Raw, SmackDown, ECW, PPV's) tornaram-se quatro membros de um corpo, e como tal, não é realmente possível ter três e faltar um... O corpo simplesmente não funciona tão bem. E foi o que se constatou.

O problema acrescido, é que o ECW é largamente considerado como o programa mais fraco da WWE, e nem todos têm a vontade nem a paciência de se levantar às 9 da manhã para ver o SmackDown. Quais são os efeitos? Os espectadores vão perdendo o fio à meada do conjunto, começa a faltar o interesse, e as audiências deixam a desejar. E ainda que seja óptimo o SmackDown ter regressado, ainda que em formato mais reduzido, o que é facto é que a escolha de hora tem espaço para melhora.


Duplo Impacto:

Uma das GRANDES perdas da Radical foi o Duplo Impacto TV. Sem dúvida alguma. Houve sempre quem não achasse grande piada à ideia (mas não dá para agradar a gregos e troianos, e para alguma coisa servem os outros números do comando da TV), mas o que é facto é que funcionava. A dupla de Beja e Botas, ambos fãs dedicadíssimos ao produto (mas nunca justamente recompensados por tal) sempre fez por dedicar o tempo e a atenção que lhes eram permitidos a promover a WWE, fosse através do programa, fosse através do podcast. Qualquer pessoa que tenha dois dedos de testa não tem, nem deve ter, nada a apontar a duas das pessoas que mais se mexeram para mover o wrestling da WWE no panorama nacional e lhe dar a atenção que os fãs consideram merecida.

De acordo com o blog de Beja e Botas, é possível que o DI volte ao canal temático, mas em 2007, quando mais eram precisos, não tiveram tempo de antena. E foi pena.


Produtos e mais produtos:

Mas não foi só o produto televisivo que sofreu este ano. Também foram os outros produtos, como as revistas, figuras de acção e os DVD's. Já a começar pelos DVD's, estes sofreram pela já referida falta de interesse pelo produto televisivo. É natural que, se um espectador não quer ver wrestling, de certeza que não vai a correr comprar um DVD de wrestling, a menos que seja algo bem especial. O mesmo se aplica às revistas: não havendo interesse em seguir os programas, também não o há para comprar revistas (ainda há bastantes à venda na Yellow's do Oeiras Parque).

No que toca às figuras de acção, é um caso um pouco diferente, porque essas, vendem sempre, independentemente do acompanhamento do produto televisivo. No entanto, as figuras WWE tiveram fortes concorrentes este ano, evidenciados pelos "blockbusters" das mesmas marcas: Transformers, Tartarugas Ninja e Spiderman 3 e respectivos produtos, foram as marcas que mais puxaram pelos pequeninos, que servem de target principal para a compra de figuras de acção. A concorrência foi forte, e este ano, as vendas foram menos do que se esperava. Tendências naturais do mercado: um sobe, um desce.


Promoção e divulgação:

Um aspecto que voltou a falhar este ano (ainda mais do que em 2006) e que me continua a confundir, é a falta de promoção... Porquê? Porque é que falta promoção à WWE? (Sim, houve bastante ao SmackDown VS Raw 2008 para a PS2, mas isso era de esperar) E porque é que os espectáculos que a WWE realiza não têm mais promoção para além daquela já incluída nos programas? É que se não fosse por isso, e pela palavra de boca que daí advém, penso que a venda de bilhetes para o espectáculo do próximo 19 de Abril seria ZERO.

A WWE não terá já suficientes provas dadas de sucesso que justifiquem um interesse dos canais que passam os seus programas e dos meios de comunicação? E cartazes a anunciar os espectáculos da WWE que até agora decorreram, alguém os viu, sem ser em algumas lojas de música?

Curioso, também, é a Radical estar numa fase em que os programas WWE precisam de um "empurrãozinho" com alguma promoção extra, e nem a promoção À BORLA que lhes vem parar às mãos é utilizada, em tempos de tão aparente necessidade. (Uma pequena dica: primeiro botão à direita)

Seja de quem for a culpa, é realmente, um fenómeno que não compreendo, e que convém ser corrigido, se é para a WWE resultar bem a longo prazo.


TVI:

Tenho as minhas razões para crer que a TVI será o canal de wrestling do futuro. Por certo, não de um modo tão extenso e completo como foi o caso da Radical em 2006... Mas penso que tenham o "business sense" e a visão, para apostarem num produto que, dêem a volta que derem, claramente funciona. O segredo, como já se constatou, é apenas saber manuseá-lo bem, e com cuidado.

Prova desta minha declaração são as audiências cada vez mais elevadas para um programa de wrestling que dá às 9 de manhã de Sábado... Penso que só isso, já diga tudo. E tal como já tiveram a visão de ver que funcionava na concorrência, e que seria sensato apostar, penso que terão a sensatez ainda maior de observar que está a funcionar às mil maravilhas agora, e que se mais tempo de antena WWE for comprado, mais resultados terão.

Penso que seja uma questão de tempo até vermos uma evolução de tempo de antena WWE na TVI.

Ainda num aparte, o que a TVI está a fazer bem e que a SIC não fez, é que está a deixar o programa "respirar" e ganhar o seu público, e assim ganhar audiência, sem pensar nos resultados imediatos, e tendo em vista os resultados a longo prazo. É assim que, perdendo uns, ganham outros!...


Conclusão, e previsão para 2008:

Feito o balanço, 2007 foi um ano mau para a WWE em Portugal. A má gestão e o desinteresse no produto assim fizeram que fosse. Podia ter sido melhor. BEM melhor.

Mas tenho razões para crer que 2008 será bastante melhor. O facto de já se avizinharem três espectáculos WWE assim o indica. Não pela quantidade de espectáculos em si, mas simplesmente por não acreditar que uma máquina de tão bom funcionamento como a WWE tenha marcado estas datas à toa, sem ter razões para tal.

E o facto do SmackDown estar num canal generalista, é simplesmente uma mais-valia de ouro, que abre as portas a muito potencial para o ano.

Qual será o próximo passo? Revistas? Merchandise? Livros? Não faço ideia... Mas penso que, de igual importância, seja apenas recuperar aquilo que foi perdido para que a WWE se possa manter no nosso país. Afinal, e como já se constatou várias vezes: tem público. É uma questão de o manter.


Post Scriptum:

Antes de concluir, e porque o título diz "o wrestling em Portugal", e não a "WWE em Portugal", quero tomar uns breves segundos para falar de um produto nacional actualmente a ser desenvolvido.

Não é segredo que, desde o primeiro dia em que os nossos espectadores de wrestling tiveram contacto com o produto WWE (e TNA, entre outros), muitos quiseram ser eles mesmos lutadores. E é em Queluz, no Centro Shotokai, aos Sábados, que uma pequena, mas dedicada parcela de talentosos e dedicados fãs de wrestling se encontram para, sob a tutela de Bammer (aluno do conceituado Lance Storm), e sob o nome colectivo de Wrestling Portugal, se entregarem com muita alma, de forma a treinar e praticar esta arte que é o wrestling.

O Wrestling Portugal tem vindo a ganhar atletas para um plantel em fase de crescimento, e pouco a pouco, vai construindo os alicerces para um pequeno e modesto produto - mas lá por isso, não com menos empenho - de sigla "WP".

É com prazer que os tenho vindo a ajudar, mais concretamente numa qualidade participativa (na gravação e produção dos seus Web Shows, que já no começo deste ano que vem, verão a luz do dia), e é com entusiasmo que tenho visto a sua evolução, no seu objectivo de se tornarem atletas sérios de wrestling português. Penso que valham a pena a atenção e penso que, com muito trabalho, 2008 seja um bom ano para eles.


Venha, então, 2008: um ano cheio de WRESTLING, esse desporto de entretenimento que todos adoramos... E que seja um ano que corra bem para todos.

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