É verdade, como vocês já devem ter visto por esta altura (e de certo que terá sido tão grande surpresa para vocês como foi para mim receber a notícia), o SmackDown que deu hoje, Domingo, foi comentado em português por mim e pelo Diogo Beja.
Confesso-vos que fiquei em estado de choque quando recebi esta proposta da SIC. "O SmackDown... comentado?!" Discordei de imediato com a ideia. Não há ninguém que faça frente aos comentadores da WWE, muito menos um Michael Cole e JBL. Ninguém. E agora, começavam a surgir perguntas, que eu colocava a mim mesmo: "serei eu capaz de me aproximar a uma décima do excelente trabalho que esta dupla faz para o SmackDown? Como vão reagir os fãs?"... e ainda "Isto é morte certa para o produto do SmackDown (e quem sabe, WWE?) em Portugal".
Mas a oportunidade foi-me apresentada. Não posso negar a imensa honra e privilégio que senti, perante a hipótese de fazer parte do rol de equipas de locutores WWE a nível internacional... nem que fosse por um só dia.
O que é facto, é que eu não sinto que tenha voz para televisão - facto esse que me foi apontado pela própria SIC de várias maneiras. Não me chamo Michael Cole, nem sequer Jim Ross. E ao lado de um Diogo Beja?? Um homem a quem tenho o prazer de chamar meu amigo, mas que tem uma senhora voz, que faz sombra à minha (sem "sombra" de dúvida). Mas pelo reverso da medalha, pensei "se vão pôr alguém a comentar um programa da WWE, que seja alguém que conheça intimamente o seu produto e conteúdo" e aí pude dizer de clara consciência: "eu conheço". O facto de trabalhar com o mesmo (estamos agora a começar o quarto ano) seria uma grande ferramenta para essa tarefa, que não deixaria de ter o seu quê de ingrata (e isso, como já diz a dupla original, é um eufemismo).
E assim, agarrei esta oportunidade com unhas e dentes, e tenho perfeita noção que fiz tudo ao meu alcance para que, da minha parte, conseguisse seguir o mais possível o estilo do homem que, por 90 minutos, eu substituiria: Michael Cole. E é também com algum alívio de consciência que sinto "fiz o meu melhor... penso que não ficou mal".
Esta pequena odisseia teve lugar num abrir e fechar de olhos: quarta-feira pela tarde, foi-me feita a proposta, quinta-feira fiz um teste de voz e sexta-feira, já estava a gravar o episódio para hoje, ao lado de Diogo Beja. Para quem me pergunte agora "sentias-te preparado?", que resposta esperam ouvir? Não me sentiria preparado, nem que fosse daqui a um ano. Nem eu, nem o Diogo.
Penso que muitos de vocês estão cientes das particularidades intrínsecas do produto no que toca aos comentários, a gama de assuntos de que é preciso falar, e até a pesquisa que é preciso fazer, entre outros factores. Se nós estávamos preparados?... Dentro da bagagem que tínhamos (nenhuma, pelo menos no meu caso, com um microfone à frente), estávamos tão preparados quanto humanamente possível.
Essa preparação incluiu até um pequeno guião de três páginas apenas com notas e algumas linhas a usar, acabado de fazer por mim às quatro da manhã da madrugada de sexta-feira, após ter ficado a trabalhar nas legendas do mesmo SmackDown (como viram, houve partes legendadas) até às duas da manhã. Foi realmente o único apoio que tivemos. À falta de um Vince McMahon a dar-nos instruções nos auriculares, à falta de gente familiarizada com o produto, e à falta de um mínimo material de referência, quem (e o que) mais nos havia de apoiar?
Mas foi um trabalho de preparação que nem eu, nem o Diogo Beja nos importámos de fazer, cada qual ao seu estilo. Se queriam comentários, então faríamos com que o público ficasse uma boa impressão, para que o produto ficasse bem servido. Se ficou ou não... é com vocês.
Pessoalmente, não sou grande fã de comentários em português (connosco ou sem nós). Penso que a esmagadora maioria dos verdadeiros fãs (como eu) prefere o produto na sua versão original. Foi assim que chegou ao sucesso que tem... porquê mudar? É desse modo que ouvimos a dupla original, que podemos aprender as manobras e nomes de as ler no ecrã, e que sentimos a emoção transmitida por pessoas que andam há anos nisto, e que fazem isto melhor que ninguém. Como já dizem os americanos, e muito bem, "se não está estragado, não mexas".
Mas pela mesma moeda, o nosso trabalho não me chocou para ser sincero. Há muitas arestas a ser limadas, muito trabalho pela frente se for para continuar, mas não foi algo que me revoltasse. (Recebi até já alguns e-mails de parabéns de alguns de vocês, e por tal, vos agradeço.) Se o público também tiver mente aberta o suficiente para nos dar tempo para melhorar, de certo que a percepção da parte do mesmo também já não será tão negativa.
Isto agora é com vocês. Se não gostarem, podem pronunciar-se a quem quiserem, ou simplesmente mudar de canal. Mas de uma coisa vos lembro: a dupla de "D&A" (como referiu o Axel no seu blog - um muito obrigado pelo seu apoio) fez de tudo - mas tudo! - para que vocês, fãs, tivessem o melhor possível, dado os poucos recursos e possibilidades que tínhamos ao nosso alcance. Pegámos nesta oportunidade e aproveitámo-la ao máximo para esse efeito.
Sim, estamos apreensivos, e sim, estamos preocupados com o futuro da programação da WWE em virtude deste desenvolvimento... mas também estamos de consciência limpa. Não fazemos ideia se esta situação se manterá ou não. A única coisa que podemos dizer nesta situação toda, de fãs para fãs, é: Esperemos que gostem.
No que me toca, para melhor ou para pior, a nível de realização profissional, este episódio ninguém me tira. Aconteça o que acontecer, pelo menos já posso defender o trabalho dos comentadores aos "marks" que não percebam nada do assunto, por ter tido experiência nessa qualidade. E importa-me também dizer que me diverti imenso, ainda que numa situação de clara discordância com a entidade empregadora.
E mais: pelo menos posso dizer que fiz... nem que fosse apenas por um dia.
Comentários, sugestões e opiniões para alexandre.bettencourt@gmail.com.
Sunday, January 21, 2007
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