Wrestling: a mística?

Que saudades dos meus tempos de "mark"... É verdade, eu admito. Tenho saudades dos tempos em que não fazia a mínima ideia do que ia acontecer, tempos em que toda a estratégia de marketing e a razão de ser das coisas me passava ao lado e simplesmente via a programação incrédulo e submerso em puro e inocente fascínio.

Convenhamos: todos nós já passámos por uma época em que, ao sermos apresentados ao wrestling, entrávamos em dúvida quanto à veracidade dos desenvolvimentos. É sempre com alguma vergonha e até negação que somos confrontados com o pensamento (e realidade, ainda que já no passado) de termos sido "marks".

Mas com o nosso crescimento, a tecnologia foi-se desenvolvendo, e com esse desenvolvimento, deu-se a introdução deste universo de informação que é a Internet, desta nova tecnologia, que como todas, pode ser usada para boas ou más finalidades.

No que toca ao wrestling, o que se desenvolveu com este novo e super eficaz meio de comunicação, foi uma espada de dois gumes. Vivemos agora na era da informação, do conhecimento... Mas quando sabemos demais, estragamos as surpresas que para nós eram reservadas.

E aqui entra o problema com esse excesso de conhecimento: aquilo que vai acontecer no wrestling daqui a alguns meses, podemos saber em cinco segundos, só de ir a um site de notícias, se esse desenvolvimento já estiver relatado.

Agora a pergunta: ganhamos realmente alguma coisa com isso? Qual é, francamente, a piada de sabermos tudo o que vai acontecer antes sequer de ter acontecido? Em prol da satisfação do conhecimento e da curiosidade, não estaremos nós a negar precisamente o factor que tanto ansiamos: a supresa? Nem mesmo em terras lusas conseguimos aguardar para que finalmente o Raw ou o SmackDown! seja emitido para vermos os desenvolvimentos; temos obrigatoriamente de ir ler os relatórios de sites internacionais no dia a seguir da sua emissão inicial para termos algo que falar.

Um exemplo específico será sabermos (muitas vezes) de antemão quem se tornará Campeão Mundial / da WWE. E depois quando acontece... Onde a surpresa já vai.

Um exemplo mais concreto será, por exemplo, a entrada de Kurt Angle na TNA. Penso que numa era pré-internet, talvez a informação não tivesse de ser escondida dos próprios "workers" da própria empresa de modo tão extremo, oriundo de um medo que alguém deixasse sair a novidade cá para fora. Tal foi o espanto de muitos, quando a tão esperada surpresa afinal era a introdução do medalhista olímpico na TNA.

Mas não serve este post para criticar a Internet, de modo algum. É um meio que funciona a favor de toda a gente, quando utilizado para bons fins. No wrestling, é especialmente bom para unir fãs, criar fóruns, conceder uma liberdade de expressão (por vezes algo abusada e com más intenções, infelizmente), entre N exemplos mais.

A questão aqui é: onde pára a mística? Onde pára o deixarmo-nos deslumbrar com o que acontece na televisão (não à frente de uma página com texto)? Onde param as caras boquiabertas ao vermos na nossa Radical (ou na EuroSport, para quem favoreça a alternativa) quando acontece algo inesperado?

Eu próprio sou culpado por estas "acusações"... E é difícil não o ser. A Internet é um mundo com informação outrora proibida e aliciante.

Mas, que saudades de tempos mais inocentes... Que saudades dos bons tempos da minha apreciação mais ingénua do wrestling.

Talvez às vezes não seja a surpresa - que deixa de o ser - que é, afinal enfadonha. Talvez a culpa esteja mesmo em nós, que queremos saber mais, acerca de algo que tem uma altura e locais ideais para ser desvendado: a hora de início do programa, na nossa televisão.

E os tempos mudam...