Sunday, July 02, 2006

PPV: ECW One Night Stand 2006

"ECW! ECW! ECW!"... Aqueles cânticos mais do que característicos de uma plateia presente num espectáculo da ECW. Cânticos, esses, entoados por duas razões: "temos os melhores que há e não há nada melhor que isto". Nós, que assistimos por fora, e que podemos concordar ou discordar, entendemos simplesmente que, para quem é fã, é dia de festa. E foi dia de festa e da grande por duas razões: a ECW voltou e o Campeão da WWE foi destronado por um deles.

Fãs anti-Cena: regozijem-se. O vosso sonho foi concretizado. Fãs anti-Cena, anti-WWE e pró-ECW, vocês só podem estar nas nuvens! Foi um Pay-Per-View absolutamente electrizante e arrebatador, é verdade. Mas vamos por passos.

Tazz / Jerry "The King" Lawler
Jerry Lawler, muito admitidamente, nunca foi fã da ECW, dos seus lutadores ou do seu produto. Revela ele no DVD "Rise and Fall of ECW" que a opinião que exprimia à frente da câmara é sustida na realidade; "ECW" igual a "wrestling extremamente rasca" (para não dizer outra coisa). Prometia, portanto, ser um combate interessante, na medida em que o maior antagonista da ECW iria enfrentar um dos seus maiores nomes. Infelizmente, e talvez muito derivado dos problemas físicos de Tazz e da falta de forma para um combate, acabou por ser nada mais que um "squash job" para detrimento de Lawler, com uma intervenção absolutamente hilariante de Joey Styles seguido do "Tazzmission". 1, 2, 3, combate acabado. Deu para aquecer os ânimos.

Kurt Angle / Randy Orton
Um combate que prometia e, a meu ver, cumpriu. Claro que, neste combate, ninguém esperava de nada muito Hardcore e foi o que aconteceu: o estilo manteu-se mais tradicional - simplesmente muito energético (e praticamente feroz) da parte de Kurt Angle, que dá 100% corpo a um cartaz que dizia "Extreme Wrestling Machine". Palavras para quê? Foi um grande combate e estiveram os dois muito bem. Mas foi aqui que o público se mostrou nitidamente diferente de um público normal da WWE, na medida em que foi bastante mais insultuoso e agressivo para com quem não caísse nas graças do mesmo. Um público abertamente discriminatório, até, como foi referido por Joey Styles nos comentários. Mal sabíamos nós o quão pior a situação se tornaria...

Promo JBL
Após um combate muito bom entre Little Guido e Tony Mamaluke dos FBI contra Super Crazy e Tajiri (que teve uma recepção muito acolhedora) e a estreia oficial de Big Show após o WWE vs. ECW Head to Head, tivemos a promo de JBL, que antagonizou ainda mais o público, revelando pelo meio que seria de ora em diante o novo comentador do SmackDown!.

Tenho alguma pena que o Tazz já não comente com o Michael Cole, sempre achei que funcionavam lindamente juntos e havia um apreço genuíno um pelo outro. Talvez tenhamos agora o equivalente a Bobby Heenan que acompanhava a dupla de Tony Schiavone e Mike Tenay nos comentários da WCW - ou o mais próximo disso, pelo menos, dado que o Bobby Heenan não era lutador.

Rey Mysterio vs. Sabu pelo Título Mundial
Este foi um Evento Principal muito aguardado (ainda que algo deslocado do tipo de alinhamento a que a WWE nos habituou). Foi um combate cheio de agilidade, manobras arriscadas, bastante Hardcore com grandes prestações de Rey Mysterio (de quem se dispensava o "619" naquelas circunstâncias) e Sabu... mas infelizmente, independentemente da razão, foi terminado de um modo decepcionante, muito aquém das expectativas. E por isso, acabou por saber bem... mas a pouco.

Mick Foley, Edge e Lita vs. Terry Funk, Tommy Dreamer e Beulah McGillicutty
Um grande combate! Grande com "G" maiúsculo, porque sem dúvida, merece. Três "senhores" do Hardcore presentes no mesmo ringue: Mick Foley, Terry Funk e Tommy Dreamer. É preciso dizer mais? E Hardcore foi mesmo a palavra de ordem do combate, que não poupou em absolutamente nada no que toca ao género de wrestling a que se propunha. Foram tacos de basebol com arame farpado, foram tábuas com arame farpado, foram pranchas completamente cobertas de arame farpado, foi fogo, foi tudo! Suscitou até o único cântico de "This is awesome!" da noite - e muito bem merecido.

Mais espantoso ainda, é ver Terry Funk (que supostamente já se tinha reformado, mas isto no mundo do wrestling é mesmo assim) que com os seus 61 anos foi rasgado, queimado, escoriado, ficou com nódoas negras, foi ajudado pelos paramédicos a ir lá para trás a sangrar, voltou com gaze encharcada de sangue (tendo mais tarde de levar pontos) e ao que parece, ainda queria mais! Isto merece ou não um polegar espetado no ar e um sorriso largo à lá Mick Foley?!

Edge, Lita e Beulah McGillicutty também estiveram muito bem, garantindo Edge a vitória de um modo no mínimo... original (e insultuoso).

Resultado à parte, e no que toca à prestação, foi o combate da noite. Fenomenal.

Balls Mahoney / Masato Tanaka
Foi um combate bom para acalmar os ânimos, com bom ambiente e muita interactividade entre Balls Mahoney e o público que gritavam "Balls!" a cada murro em Tanaka e que iam cedendo umas cervejinhas pelo meio para lhe refrescar a garganta. Gostei.

Promo Eugene / Sandman
É-nos mostrado um plano de John Cena (a levar uma mínima percentagem das vaias que ia receber mais logo - uma espécie de "primeira prestação") e avizinha-se aí o Evento Principal por excelência, aquele pelo qual todos esperam. Mas primeiro quem vem aí, quem é? É o Eugeeeeene!... (tinham de desencantar alguém para que aparecesse o Sandman) E pelos vistos deve ter andado a ver cassetes antigas do SmackDown!, de uma altura em que o Heidenreich era lunático e pseudo-poeta, porque também lhe deu para os poemas e ele próprio escreveu uma espécie de "disasterpiece", o que deu logo azo a uma reacção negativa dos fãs, que por dentro, imploravam por salvamento. E este foi concedido na forma de Sandman, que correu com o Eugene à pancada, dando-lhe o amor todo que este queria. Foi uma presença aguardada e o público ficou satisfeito.

John Cena / Rob Van Dam pelo Título da WWE
O combate mais aguardado da noite, no ambiente mais hostil que eu alguma vez vi no ecrã. A expressão "é um ambiente de cortar à faca" fez todo o sentido neste combate. Mas com tanta evidente expectativa, mais parecia que quem ia "à faca" era o campeão John Cena, que tinha sido avisado por Rob Van Dam no Raw que se antecedeu: "vão correr contigo porta fora aos berros". E foi mesmo corrido - e sem o título.

Em 15 anos a que já assisto a wrestling, nunca vi ninguém supostamente "face" a ser de tal modo insultado e apupado na minha vida. (Até o árbitro Nick Patrick foi insultado ao ter de substituir o primeiro!) Vejo agora que os cânticos depreciativos dirigidos a Cena na WrestleMania 22 eram uma mera amostra em relação ao tratamento que teve neste Pay-Per-View. Um tratamento inexoravelmente mau, do princípio ao fim, com insultos e caras feias do público, cânticos menos favoráveis, dedos do meio espetados, boné e t-shirts devolvidos (e cuspidos em cima)... O ódio era 100% genuíno e sob as condições em que John Cena se encontrou, da minha parte só merece mais respeito ainda, por se ter aguentado à "porrada" (literalmente).

O combate em si, foi sem dúvida o segundo melhor da noite, na minha opinião (tendo o primeiro lugar já sido atribuído). Cena surpreendeu-me pela positiva, na medida em que se mostrou adequadamente mais bruto, agressivo e Hardcore, até, conquistando um mero milésimo de respeito dos fãs, que a dada altura ficaram quase silenciosos, mas que continuaram com cânticos "(apesar de até estares a fazer coisas porreiras e estarmos a gostar desse teu esforço) continuas a não valer nada".

E claro, a histeria total antecipava-se quando Rob Van Dam finalmente ganhou o Título da WWE de um modo perfeitamente justo, de acordo com as regras da ECW.

Não esqueçamos que Rob Van Dam teve o Título Mundial de Televisão da ECW durante 23 meses seguidos e o seu reinado foi terminado apenas devido a uma lesão. Em miúdos: Paul Heyman apostou nele e muito, e foi recebido de braços abertos durante esse tempo todo pelos fãs. E como tal, foi para delírio dos mesmos que "um deles" voltasse a ganhar um título prestigiado, mas desta vez o título mais prestigiado no panorama do wrestling e ainda por cima "dos outros"!

Foi uma noite que, incontestavelmente, acabou em grande e que nos deixa a todos em pulgas e na expectativa de ver o que vai acontecer daqui para a frente (em breve colocarei um artigo opinativo acerca do tema "WWE/ECW" aqui no blog).


Extras do DVD:
Ficaram tristes por não termos o WWE vs. ECW Head to Head na nossa Radical? Não há problema, porque têm uma pequena compensação: no DVD está disponível a "Battle Royal" entre marcas, com uma duração de 15 minutos!

E não ficamos por aí! Para além de comentários dos fãs como segundo extra, somos presenteados com os 10 primeiros minutos do primeiro episódio do novo programa do canal americano Sci-Fi, "ECW"! E mais não conto, para não estragar a surpresa.

E já referi que o primeiro Pay-Per-View da ECW, o Barely Legal de 1997, que também passou por mim, está incluído como segundo disco?

Não, não é uma edição "Big Time". É... "Extreeeme"!

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